segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A sociedade moderna os cães e suas funções

Os cães servem ao homem desde os primórdios da humanidade sendo cultuados como representantes dos deuses no antigo Egito, auxiliando Romanos em grandes invasões e considerados sagrados no milenar continente Asiático.

Na sociedade atual os animais domésticos também conhecidos como animais pet, indústria essa que movimenta milhões ao ano em nosso País, se tornaram parte integrante da maioria das famílias,em especial os cães. Não é incomum vermos cães sendo tratados como crianças em nossa sociedade, sejam com relação à linguagem, vestes, brinquedos, bijuterias, jóias, bolos, balas, bolachas entre tantas outras novidades que o mercado pet oferece, desencadeado inicialmente pela grande carência que as pessoas se encontram em tempos modernos, projetando assim em seus animais todo o amor e carinho que elas mantém oprimido.

A uma frase muito usada por proprietários de que seus cães acreditam serem humanos, o que não é real, na realidade o que acontece é que seus proprietários em busca de humanizar seus animais acreditam que seus cães pensam ser humanos,exatamente pela necessidade de amar e serem amados.

Algumas situações ao entorno dessas questões são muito importantes, inicialmente a de que tipo de animal passa a receber esse tratamento, pois normalmente as pessoas tendem a não reconhecer a função inicial de uma raça, função essa a qual muitas raças foram décadas e décadas selecionadas para exercer com perfeição, não é incomum vermos proprietários de cães de guarda como Rottweilers, Pastores e Dobermans tratando seus cães como crianças, o que de fato pode não gerar nenhum problema como a grande maioria dos leitores deve estar imaginando,qual o mal haveria nesse tipo de atitude?Porém devemos ponderar que tais animais quando de fato procedentes de bons criadores apresentando temperamento equilibrado realmente não apresentariam mal algum sendo tratados de tal forma ,a não ser o fato de acabar por perder seu temperamento e função original.

A segunda questão que na grande maioria dos casos os cães de raça adquiridos pelas pessoas não possuem procedência real,o que pode não gerar problema algum como também pode gerar entre outras situações ataques a proprietários ou a seus familiares por não saberem como lidar com esse animal e suas características raciais,sendo em sua maioria cães doados por um amigo,um parente,comprados via internet a preços promocionais,enfim um presente.O que faz com que nosso País ainda não tenha uma grande cultura quando tratamos de cães,suas funções e utilidades especificas para auxiliar os humanos.

Quando assistimos no noticiário algo referente a ataques de cães, devemos analisar a situação em seu todo, qual a raça desse animal e se de fato detém alguma?Qual o trato dado a esse animal e isso não significa necessariamente que seja mal tratado, pelo contrario,um animal tratado como uma verdadeira criança também pode vir agredir seus donos ou familiares por uma disputa de liderança,por um descontrole psicológico, por defesa a sua matilha ou até mesmo por perder a referência do que de fato ele representa dentro dessa família (matilha).

Quando falamos em adquirir um animal devemos analisar primordialmente nosso temperamento e que tipo de energia movimenta a família nesse lar, para depois irmos à busca de um animal.Em especial nos cães podemos obter cães sabujos para caça, cães de salvamento, cães boiadeiros, cães de companhia, cães de guarda, cães galgos, cães de combate, cães guia, cães babá entre diversas raças e características únicas entre muitas delas, é um erro adquirir um animal por sua aparência imaginando que todo cão é igual em suas características funcionais e comportamentais.

Muitos casos de abandono animal partem desse principio de que o cão não é bom, quando o correto seria afirmar que esse proprietário não é ideal para esse animal e sua função característica.

Não é difícil vermos cães da raça Husky Siberiano vagando nas ruas provavelmente por que é abandonado ou solto,pelo fato de seus donos pensarem que são cães que não tem apego por eles ou que sempre fogem de suas casas.Na realidade nesse caso é um animal de extrema independência natural ao desenvolvimento ao qual a raça foi selecionada, seria por exemplo, um excelente cão para pessoas mais reservadas que não gostam de extremo contato e de animais super dependentes.Outra situação bastante interessante seria proprietários dos polêmicos cães Pit Bulls espantadíssimos por que seus cães querem sempre brigar e não aceitam outros cães nos passeios dominicais,quando na realidade isso seria o natural e até o ideal para uma raça que foi desenvolvida para o combate entre cães,assim como também entre cães e outros animais, desenvolvido para jamais oferecer perigo algum a nenhum humano, anormal são cães dessa raça aceitarem diversos animais em seu convívio e oferecer perigo a humanos seja por má criação, má procedência e mestiçagem ou por comportamento induzido e adquirido entre outros diversos fatores.

Há muitos cães que são usados pelo homem como uma forma de auto-afirmação na sociedade moderna, seja com relação á superioridade financeira, agressividade, insegurança, carência, seja apenas por um simples capricho de ego, não se considerando que animais de raça quando adquiridos por uma família trazem consigo características rácicas de acordo com seleções feitas no passado focando o aprimoramento de suas funções originais, sendo seu comportamento completamente passível de sofrer alterações de acordo com o que foi ditado como regra por essa matilha ao qual ele passa a pertencer.

É importante analisarmos todo o ambiente e energia ao entorno desse cão para sabermos se é um mau cão para essa família, se é uma má família para esse cão, se ambas as energias cão e ambiente são possíveis de afinamento ou se apresentam incompatibilidade energética e comportamental.

Analisarmos funções e características de ambiente, energia, família e cão ainda são o caminho mais curto para uma convivência duradoura feliz e harmoniosa entre os cães,suas funções e a sociedade moderna, sem também não nos esquecer dos inacreditáveis vira-latas de extrema funcionalidade e fácil adaptação aos mais diversos ambientes, sendo eles também exímios servidores dos homens e igualmente merecedores de todo esse amor e carinho oferecido pelos humanos.

Seja qual for a sua escolha entre os mais diversos animais domésticos, os cães acima de tudo trazem para a humanidade o ensinamento do servir ao próximo sem esperar nada em troca.


De todos os animais que conhecemos é o cachorro o que mais se uniu a nós. Sejam príncipes que lhe dão farta comida e leito de plumas, ou mendigos que dormem ao relento e só podem oferecer-lhe uma pequena parte das suas próprias migalhas, idêntica é a sua afeição e dedicação, e com igual amor lambe a mão ornada de jóias e os dedos trêmulos, consumidos de doenças e fome.

Théo Gygas, em "O cão em Nossa Casa"


Lincoln Fernandez Canil Survival Staffords

A arte de criar

Ha hoje em dia um grande crescimento no mercado de criações de cães e animais pet em geral.
Isso se da por vários fatores; pelo alto índice de desemprego, por oportunismo e até mesmo pelo simples acaso. O ideal sempre é criar cães por amor e por objetivo claro dentro da raça escolhida.
Não condeno o comércio de cães, pelo contrário o vejo como um comércio como outro qualquer, onde o conhecimento e o foco são fundamentais para o sucesso comercial.
Percebo hoje um grande desconhecimento por parte de muitos criadores com relação à raça que cria, o que acaba por criar um grande circulo vicioso onde quem cria ou não tem as informações corretas para orientar seus clientes, ou ainda os mantém informados de forma incorreta.
É interessante, por exemplo, a forma como a maioria das publicações aborda temas sobre diversas raças, basicamente toda raça é boa para tudo, crianças, companhia,guarda,caça, enfim, ela é perfeita. Seja qual for sua raça acaba sendo perfeita para basicamente tudo desde que haja um cliente com dinheiro em mãos.
Obvio que estou generalizando, mas é fato que o mercado de filhotes cresce a cada dia sem critérios reais definidos, importante também colocar o desconhecimento de quem procura um filhote para alegrar a família, sendo única e exclusivamente adotados dois critérios; custo beneficio e uma bela carinha de um filhote canino.
Questões como funções e características rácicas são deixadas de lado nesse momento o que quase sempre é o inicio de uma relação complexa.
É fundamental que o comprador inicialmente defina o tipo de cão que procura pelo temperamento, questões como aparência, tamanho e preço devem ser avaliadas posteriormente, sendo isto definido é interessante que o comprador visite alguns criadores da raça escolhida, conheça os objetivos e os cães envolvidos no projeto.Estando essas questões solucionadas a escolha do filhote é ponto crucial para o sucesso, da mesma maneira citada acima se deve escolher o filhote pelo seu temperamento e postura e nisso a transparência do criador deve prevalecer para que essa relação família e cão sejam eternamente harmoniosos.                                                                   

 Lincoln Fernandez é consultor, pesquisador cinófilo e criador de cães.

Comportamento


    Em primeiro lugar gostaria de dizer que todos os assuntos aqui abordados serão colocados de maneira clara e simples, para que todos possam ter perfeita compreensão dos mesmos. Assim que me perdoem todos os catedráticos de plantão!

     Para começarmos a falar sobre comportamento canino é necessário tentarmos compreender como os cães enxergam o mundo e como age a mente desses seres maravilhosos seres!

     Todos sabem que cães possuem uma capacidade enorme de adaptação ha variações de ambiente e para tanto precisam ser sensíveis aos eventos que ocorrem a seu redor, respondendo a relações temporais, espaciais e preditivas entre estes eventos.

      Por exemplo:

      Os Bebes nascem mal crescem e aprendem um mínimo com a mãe e com somente 45, 50 dias já estão separados de seus irmãos, sem a proteção materna, em um ambiente estranho, rodeado de novos humanos e podem ter certeza isso não é fácil!

    Para que possamos entrar na mente de um cão precisamos de dois conceitos básicos:

      1- Cognição: Ato de adquirir um conhecimento.
 
 
      2- Representação: Cabe dizer que um animal possui representação se ele puder utilizar uma informação que não está disponível no seu ambiente.

    Um exemplo básico de cognição e representação:

      Um bebe de 60 dias costuma se esconder em baixo de algum lugar, aos quatro meses ele vai novamente a este lugar, mas já não cabe mais. Assim após tentar entrar algumas vezes no esconderijo antigo percebe que não cabe mais, adquiriu um conhecimento, ou seja, grosso modo, uma cognição.
 
      A partir disso ele consegue perceber que já não entra em lugares tão pequenos e na maioria dos espaços que percebe como pequeno demais ele não tenta mais entrar (já está usando uma representação). Mesmo que até chegar à idade adulta ele ainda teste alguns lugares, naqueles menores ele nem tenta entrar

      Outro exemplo interessante:

      Coloquem os bifinhos, biscoitos e as guloseimas que seus cães mais gostem em uma lata, sacudam a lata perto de seu cão, façam barulho e depois entreguem a guloseima a ele. Repitam a operação algumas vezes e logo perceberão que ele saberá que naquela lata, com aquele barulho, estão os petiscos (mais uma cognição).

      Agora peguem outra lata, diferente (cor, tamanho, etc.), coloquem as guloseimas, chacoalhem e façam um barulho parecido, a maioria dos cães prontamente saberá que de lá virá alguma coisa gostosa, ou seja, ele já sabe que latas que chacoalham têm coisas boas (mais uma representação).

     Então podemos chamar o “jeito do cão pensar” de memória cognitiva.
 
  Nas nossas próximas conversas mostrarei como o cão utiliza essa memória cognitiva e como devemos estimulá-la, um abraço a todos.


Tazzo Jr é adestrador e handler profissional, especialista em comportamento canino e proprietário do Canil Di Tazzo.


Conhecimento

            Amigos tenho plena consciência que meu modo de encarar as coisas seguem o estilo “velha guarda”, mas nem por isso me considero ultrapassado. Seria um tanto enfadonho falar aqui sobre a revolução que a internet tem trazido ao universo dos criadores de cães nos últimos 10 anos, mas como todo grande processo de mudanças, os efeitos colaterais sempre estão presentes.

            Todos os criadores têm conseguido melhorar seu plantel com a facilidade do intercâmbio de informações, mas um tipo específico de criador tem me chamado bastante atenção.  São os pseudo-criadores formados na duvidosa escola dos Orkut da vida. São esses criadores virtuais que transitam por diversas comunidades e acabam por influenciar muitas pessoas, chegando até mesmo a serem formadores de opinião.

            Criadores sem caráter e sem ética sempre existiram e sempre existirão. O que proponho aqui é que todos nós tenhamos cuidado para não entrar nesse processo de “virtualização” que acaba por nos contaminar. Cada vez mais somos bombardeados com bravatas de criadores dando fórmulas de cruzamentos perfeitos, afirmando terem cães de guarda fantásticos, reprodutores infalíveis e por aí afora. Curiosamente, você nunca encontra os tais criadores em eventos, nunca vê nenhum de seus “famosos” cães e quando tentamos visitar os mesmos, às vezes acabamos por descobrir que o tal especialista que tanto debate na internet mora em um apartamento.

            Nada contra quem tem poucos cães, aliás, quantidade não é premissa para que o criador seja competente. O que não é possível admitir é que alguém consiga defender qualquer idéia no mundo cinófilo tendo como embasamento somente a visita em sites, discussões em comunidades ou pior, opinião de terceiros que eles mesmos nunca confirmaram de fato.  No geral esses falso-especialistas estão mais preocupados com as pessoas e com que elas vão dizer deles mesmos. Não querem ter o melhor cão e nem se preocupam muito com ele. Sua preocupação maior é que os outros achem que ele tem o melhor cão.

             Durante anos, tenho feito visitas a canis, buscando criadores isolados em confins distantes (mas que muitas vezes possuem excelentes cães), indo até provas de trabalho, criando amizades, tendo boas e más surpresas. Só uma coisa me confirma que essa ainda é a única forma: a certeza que estou frente à REALIDADE.
           
          Ao ver os cães, na maioria das vezes, toda a retórica do site cai por terra e poucas vezes o tão perfeito cão descrito se concretiza. É somente nessa hora é que podemos aprender muito, confirmar o que sabemos e até rever conceitos. Cem horas de navegação na rede não chegam nem perto do que absorvemos em uma única visita a um canil. Com essas prazerosas andanças é que pude perceber também que o cão ideal pode ser subjetivo, pois se o cão atende totalmente as expectativas do seu dono e recebe carinho em troca, já é o suficiente.
           
         Viva a internet! Mas encarada como uma ferramenta que ajuda a nos aproximarmos e não nos distanciarmos. Menos toques e cliques e mais pé-na-estrada e cheiro de cachorro!

Abraços

                                   

Fabio Quio Takao ex- diretor cinotécnico do Clube do Pit Bull do Estado de SP, pesquisador cinófilo com foco em genética de cães de trabalho proprietário do Revenge Kennel.